sexta-feira, 30 de março de 2012

REALIDADE INFANTIL
E
(DA) REALIDADE INFANTIL


Este Blog é um espaço de diálogo e de leitura das respostas de crianças frente a realidade, por isso a nomeação “Realidade infantil”. O nome do referido espaço denota uma tentativa de expor reflexões sobre a infância nos tempos de hoje, bem como provocar questionamentos nos leitores adultos que se ocupam da infância, sendo eles: pais, educadores, profissionais do campo “psi”.
Meu desejo é ser locutor, ou interlocutor das questões a serem trazidas pelos leitores deste Blog, ou seja, convido os apreciadores deste espaço  a trazer pontos de interrogação sobre o comportamento infantil, ou aspectos referentes às ações das crianças, que mereçam espaço de uma escuta capaz de dar o devido lugar à infância e consequentemente uma reflexão propulsora sobre os aspectos abordados.
Os leitores poderão encaminhar um tema para ser desdobrado neste espaço, através do e-mail: castilhos_pp@hotmail.com. Sinalizo que, em hipótese alguma, este espaço será um lugar de “receitas prontas” de como lidar com crianças, uma vez que cada ser é um ser único devido ao conjunto de dados históricos da sua vida registrados e vividos na integração do sujeito infantil desde o antes de sua concepção até a instauração da função simbólica que o introduz no mundo da linguagem.
Outro aspecto importante está no sigilo garantido aos leitores que contribuirão com o tema ou a questão a ser desdobrada pelo autor deste Blog.
A seguir trago uma questão a ser pensada que emergiu de alguns atendimentos em Psicopedagogia Clínica na primeira semana de março de 2012. A seguinte frase foi colocada por várias mães me fez escrever sobre a seguinte questão: Porque meu filho está tão ansioso para o primeiro dia de aula?
Eis aí, algo bastante comum entre as crianças que gera um nível considerável de ansiedade, o famoso primeiro dia de aula...
Para tratar disso vou retomar o que escutei de algumas crianças, pacientes em meu consultório, onde coloquei em causa, a expectativa do primeiro dia de aula, mais ou menos assim perguntando:
  - Como achas que será o teu primeiro dia de aula neste ano?
A resposta na maioria dos casos passa por uma agitação motora e em outros sendo resumida na seguinte resposta: - Vai ser legal... Vou encontrar meus amigos, minha professora...
Enfim, nenhuma novidade. Porém um menino me responde com as seguintes palavras:
- Provavelmente os professores pedirão para desenhar, ou escrever como foram as férias.
Então retomo com a seguinte colocação: O que tu achas que seria importante perguntar sobre as férias dos alunos? Tenho a seguinte resposta:
- Perguntar se as férias foram boas ou ruins...
Peço a esse menino para desenhar aquilo que uma criança pode viver de bom e ruim, no período das férias. Eis que o menino desenha uma bicicleta e uma garrafa. Peço ao menino uma rápida história em algumas palavras sobre cada desenho e assim ele me conta: “Era uma vez um menino que andava de bicicleta, seu pai quis também andar, só que ele caiu, pois estava meio tonto para andar de bicicleta”.
O período das férias escolares é um momento de encontro da criança com uma rotina intensa com seus familiares, logo as crianças estão sujeitas a verem cenas do mundo dos adultos que, por sua vez, remetem-se ao contato com as drogas, das mais variadas, mas especialmente com a bebida alcoólica. Por sorte muitas crianças encontram outras crianças para viverem seu mundo de prazer, isto é, sentir a adrenalina de andar de bicicleta, entrar no mar, jogar e jogar, brincar e brincar...
Observa-se que cada vez menos os adultos brincam e acompanham as crianças nesses momentos. Enfim, os adultos não estão lá para registrar na sua memória aquilo que seus filhos experienciam nas férias escolares. Logo, não se tornam condutores desta história.
Uma criança fica ansiosa para o primeiro dia de aula, isto é fato, porém me faz pensar naquilo que a escola produz, o grande encontro, isto porque a criança tem a possibilidade de reproduzir e integrar na sua própria história dados significativos contando-a para alguém. Elas tem essa habilidade de serem complacentes, de aceitar a história mais legal, mais fantasiosa, coisa típica de criança quando inventa para dar status a sua vida. E, então, elas contam umas para as outras tudo que fizeram, criando um espetáculo para sua vivência.
Talvez as crianças percebam que não são levadas a sério pelo adulto, e o adulto encara o sentimento da criança como algo comum, porém precisam compreender que para diminuir a ansiedade de seu filho é necessário escutá-lo e inseri-lo na realidade pelo diálogo com novas palavras ou nova forma de descrever o que está sendo contado. Quando essas mesmas palavras se fazem ausentes o corpo demarca com sua agitação que algo deva ser deslocado para palavra. Ou seja, a palavra sustenta um simbólico que passa pelo corpo e se manifesta num discurso a dois que auxilia a elaboração do significado, desde que instituído na e pela cultura. Por vezes, quando a família e/ou a escola não percebem essa modalidade de interação, torna-se imprescindível a intervenção terapêutica.
Daí, a importância dos profissionais “psi” nos Programas de Prevenção de Saúde Mental e Desenvolvimento Sociocultural, os quais podem auxiliar, por exemplo, a comunidade escolar, as famílias e as empresas dentre tantas instituições que constituem nossa cidade, a melhorar a qualidade de vida daqueles que participam do Programa e,  ainda promover aprendizagens que garantam bem-estar, melhoria da auto-estima e o reconhecimento de que podemos ter uma convivência sadia em casa, na escola, no trabalho e no lazer.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog, professor Daniel....com certeza farei muitos comentários ainda...Andréia.

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  2. Muito legal Professor, é por meios assim que superamos a barreira da distancia e do tempo, Bjs Tatiana

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